Cosmogonias Filosóficas

Quem foi Xenófanes?

As primeiras cosmogonias filosóficas, propostas pelos milesianos e pelos pitagóricos, podem ser vistas como variações do monismo corporalista: a diversidade das coisas existentes provindo de uma única physis corpórea (seja água, ou ar, ou unidade numérica). Todavia, a própria divergência entre os pensadores, cada qual apontando um tipo de arché e um tipo de processo capaz de transformá-la em tantas e tão diferenciadas coisas — suscitou a necessidade de se investigarem a epistemologia sapiencial do conhecimento humano, buscando-se com isso um caminho de certeza que superasse as opiniões múltiplas e discrepantes.

Assim, a bilateralidade entre unidade e pluridade deslocou-se da esfera cosmológica para reaparecer sob a forma de oposição entre verdade única e multiplicidade de opiniões. Essa encruzilhada do pensamento que, fecundou toda a investigação filosófica posterior manifestando-se em Heráclito de Éfeso e, sobretudo, marcada pela escola de Eléia. O eleatismo, segundo a maioria dos historiadores da filosofia, é a que teria inaugurado explicitamente tanto a problemática lógica quanto a ontológica. As especulações sobre o conhecer e sobre o ser. Na Antigüidade, Platão e Aristóteles consideravam Parmênides, Zenão e Melisso como os representantes do eleatismo. Outros autores antigos situavam entre os eleatas também Xenófanes e Górgias, o famoso sofista.

Chegou-se a considerar Xenófanes como o fundador da escola, o que a crítica moderna geralmente rejeita, atribuindo esse papel a Parmênides. Nascido em Colofão, colônia grega da Ásia Menor, Xenófanes (580-475 a.C.) foi para o sul da Itália, então chamada Magna Grécia, quando sua terra natal caiu nas mãos dos medas. A semelhança de Pitágoras, levou para essa parte ocidental do mundo helênico os frutos da ascensão intelectual que, caracterizava a Jônia, passando a difundir a nova concepção do universo forjada pelas escolas filosóficas. Durante muito tempo pensou-se que Xenófanes teria escrito um poema (Sobre a Natureza), expondo idéias filosóficas próprias. Historiadores modernos, como Werner Jaeger, recusam essa versão, afirmando que em seus poemas Xenófanes teria tão-somente narrado fatos sobre a invasão dos medas e sobre sua vida pessoal.

Além disso, essa seria justamente a parte mais importante de sua obra —poemas satíricos, os silloi, criticando, em nome das novas idéias filosóficas, a mentalidade vulgar, particularmente quanto à concepção do divino. Apoiado na visão do universo como constituído a partir de uma única origem (a arché, que os pensadores jônicos já qualificavam de “divino”), Xenófanes proclama: “Um deus é o supremo entre os deuses e os homens; nem em sua forma, nem em seu pensamento é igual aos mortais”. Começava o combate aos deuses antropomórficos, herdados da tradição homérica.

Referência;
→ Aristóteles, Sobre Xenófanes
► Metaética